Sobre o nosso vôzinho ...
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Meu avô
O melhor presente que meu avô me deu , na vida toda, foram as memórias de sua própria infância.
Me lembrei disso ontem. E tive a nitida sensação de estar, denovo, na cozinha de sua casa, a exatos cinco anos atras, compartilhando uma xícara de café com leite.
Me contou da vida dificil, da época que seus pais vieram da Itália, de barco. Da morte prematura da sua mãe. E parece que posso ver seus olhos cheios de lágrimas quando me contou que ele era pequeno quando sua tia casou com seu pai, meu bisavô, para que pudesse ajudar na criação dele e de seus irmãos pequenos.
Meu avô teve uma vida dificil, cheia de percalsos, não sorria muito, era uma pessoa dificil de lidar. Talvez por tudo que tinha passado na vida não achava que tinha motivos pra sorrir.
Mas foi um ótimo pai, criou dez filhos com dificuldade porém com a fartura que uma vida numa cidade pequena podia lhes dar. Nunca, nenhum filho passou fome, todos foram encaminhados na vida. E ele trabalhou até o fim da vida...
Tinha um moinho de arroz, criava galinhas, vivia no interior, levava uma vida tranquila.
Gostava de tomar uma taça de vinho , que seu irmão trazia de Caxias. Tinha uma "cachacinha" especial de butiá, que guardava para quando os filhos vinham visitar, boa pra tomar com o chimarrão que ele tanto gostava. Só tomava café bem quente, vivia dizendo pra gente apagar as luzes quando não tinha ninguém no comodo.
Me lembro como se fosse hoje, de acordar em sua casa com as badaladas do relógio de parede que ficava junto a salinha onde ele consertava relógios. Sim, ele consertava relógios. Era seu hobby. Escutava todo dia de manhã a rádio Guaiba. De tanto ouvir noticias ,pela manhã ,em sua casa acabei pegando este mesmo hábito.
Tive uma infância feliz, brinquei bastante, me sujei de lama, subi em árvores, andei a cavalo, comi goiaba pendurada na árvore. Mas acho que, de tudo que fiz, o que mais me marcou a vida toda foi ter tido esta conversa com meu avô. Foi quando ele me disse que não importava a profissão que eu escolhesse nem o quanto de bens materiais eu poderia ter, mas que pra ele só importava o quanto eu tinha me tornado um ser humano do bem. Isso me deixou muito feliz, porque na minha vida toda a opinião dele sempre foi muito importante.
A única coisa que eu não vou perdoar nunca é que ele foi embora sem conhecer minha filha... isso me doeu profundamente... E aonde você estiver hoje vô Mário, saiba que eu mato um leão por dia, mas tento sempre ser uma pessoa melhor...
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meu comentário
Oi Lu, estou com os olhos cheios de lágrimas ...
Tenho lembranças diferentes do meu vôzinho amado. Sempre teve uma proteção especial comigo, acho que eu aprontava tanto que ele nem ligava mais.
lembro do sorriso sereno dele ... das tentativas frustadas em fazer com que eu não pegasse a garele dele escondida e no final mandou ensinar a Tia Laura andar ...
Eu era muito nova e por isso não tinha essa noção de que um dia ele iria embora ... não tive essas oportunidades de papos profundos com ele mas sempre que falávamos ao telefone era uma alegria só. NUNCA vi meu vôzinho reclamar de qualquer coisa que fosse ... como tenho saudades dele.
28.8.07
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Um comentário:
lilis, até eu me emocionei... lembrei com a maior saudade dos meus avós
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